Elo é um substantivo masculino que significa, entre outros sentidos, ligação, união, continuação. Com a criação do projeto “Elos – Uma História Sem Fim…”, o setor de Comunicação Social vai interagir diretamente com beneficiários e colaboradores que aqui circulam.
Mas não é só isso! O nosso setor vai em busca de ligações das pessoas com a ACADEF. De que forma nos unimos? Qual é a sua ligação com a ACADEF? Não o que você faz aqui, mas o que te marca aqui? Que marca você deixa aqui? Como você muda a vida das pessoas que por aqui passam?
Com objetivo de humanizar ainda mais a nossa instituição, assim como de proporcionar reflexões em cada pessoa que transitar por aqui, independentemente de quem for.
O dentro e fora da ACADEF estão ligados. E você? De que forma estabelece este elo?
A decima primeira Edição do Projeto Elos
É com Alexandra da Cruz Martins Carvalho
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Há 13 anos trabalhando como assistente administrativa na ACADEF, Alexandra da Cruz Martins Carvalho, 37, é um exemplo de superação. Mesmo com todas as barreiras que surgiram em sua vida, já desde muito pequena, passou por cima de cada uma delas, mostrando que quando se deseja algo, é preciso lutar para conseguir.
Alexandra vem de uma família grande. Em sua casa moravam com ela, nove de seus doze irmãos e seus pais. Mas o pai quase não ficava em casa, pois trabalhava como caminhoneiro. A assistente lembra que as vezes ficavam seis meses sem ver o pai e era do trabalho dele que vinha o sustento da casa. Passaram por muitas dificuldades, a ponto de muitas vezes não ter o que comer, “teve tempos assim da minha vida, de minha mãe abrir o armário e não ter realmente nada, nada, nada, nada”, enfatiza. Por isso é com carinho que lembra de sua madrinha, Eloá Portz Machado, quem sempre se fez presente nos momentos mais difíceis, auxiliando em tudo que a menina Alexandra e sua família precisavam. Mesmo com tantas dificuldades, ela afirma ter boas recordações, “sempre foi uma casa, apesar de tudo, muito animada, com muita vida”.
Carvalho conta que na infância era bastante tímida, não era muito de conversar, e na adolescência continuou assim. Era de poucos amigos e sua rotina era de casa para a escola e da escola para casa. O único “trabalho” que ela dava para a mãe era em relação a sua saúde. Além do linfedema, ela tinha bronquite asmática crônica, e era viciada em usar a bombinha. Como qualquer adolescente, passou por problemas de auto aceitação, e admite que o inchaço causado pela doença rara, não lhe incomodava tanto como fato de ser muito magra.
Aos 16 anos sua vida deu uma “balançada”. Ela começou a frequentar grupos de jovens dentro da igreja, e o seu círculo de amizades aumentou. Ela foi crescendo dentro destes grupos, inclusive entrou na coordenação. Quando ela estava com 26 anos entrou um cara diferente no grupo, ele era o José Ailton Rodrigues Carvalho. Os dois começaram a se conhecer melhor, e logo começaram a namorar. Alexandra relata que entre namoro e noivado, foram quase cinco anos até o casamento. Há três anos mais uma surpresa, pois receberam um pacotinho cheio de amor, a Maria Helena da Cruz Carvalho, chegou ao mundo e transformou a vida desses pais babões.
Alexandra lembra que antes da chegada da Maria Helena, muita gente acreditava que a mulher não queria ter filhos, por ter ajudado a criar os irmãos. Mas não era bem assim, ela afirma com muita certeza que sempre teve esse desejo de ser mãe, “claro, que não, talvez com 9 filhos, com 12 filhos né, mas eu sempre quis ter”, brinca a assistente administrativo. E quando isso aconteceu foi uma realização, o marido foi muito parceiro. A menina é a sua princesa e o motivo dela seguir, sempre mostrando a filha como a vida é bela. Apesar de tudo o que enfrentou e ainda enfrenta, Martins considera que tudo em sua vida é benção.
A doença
Por volta dos cinco anos descobriu ser portadora de linfedema, uma doença, no caso dela congênita, que não tem cura. Cruz explica que a doença faz com que as glândulas linfáticas, responsáveis pelo bombeamento da linfa no corpo humano, não funcione na parte inferior do seu corpo, e parcialmente na parte superior. Dessa forma acontece um acumulo de liquido no corpo dela, inchando todo o lado esquerdo. Junto com isso vem a imunidade muito baixa, “Eu tenho um sistema imunológico muito enfraquecido, em função desse problema do linfedema”, ressalta. Por isso ela precisa ter o dobro de cuidados com sua saúde. Alexandra tem muitos gastos por causa dessa doença. São massagens linfáticas, consultas médicas e as contenções que servem para segurar o inchaço. Ela deveria trocar as faixas a cada quatro meses, mas acaba estendendo para cinco ou seis, por causa do alto valor.
O acompanhamento médico começou aos sete anos. Por ser algo raro, todo os estudos feitos com ela serviram também como pesquisa para os médicos. Ela relata que foi por volta dos 17 anos que “caiu a ficha” de que não havia cura para sua doença, até então acreditava que poderia ser curada. Apesar de ter sido muito frustrante saber a realidade, também foi libertador, “a partir dali eu comecei a traçar uma meta assim, ‘ah eu preciso fazer isso e isso pra ficar bem e me conscientizar que se não tem uma cura, pelo menos eu tenho que viver com isso da melhor forma possível’”, comenta Carvalho.
Um dos momentos mais difíceis para Alexandra, em relação ao linfedema, foi quando viu um dos seus maiores sonhos não podendo se concretizar por causa da doença. Ela conta que quando era criança queria muito estudar na base aérea, mas seus problemas de saúde foram um empecilho, “eu passei na prova teórica né, mas na hora dos testes físicos eu não passei, isso pra mim foi uma grande frustração”, lembra. Também sonhava em fazer balé, mas não podia. Sentia dificuldades também na escola com as aulas de educação física, lembra como sempre ficava de fora.
O Elo com a ACADEF
Aos 16 anos veio o desejo de fazer algum curso, mas faltava o dinheiro. Então tentou conseguir algum estágio ou emprego, mas foi bem difícil. Alexandra acredita que além da falta de qualificação, o linfedema também foi um empecilho na hora de conseguir assinar a carteira de trabalho. Para conseguir uma grana ela trabalhou cuidando de crianças, fazendo faxina, topava qualquer bico que surgisse. Mas carteira assinada, foi só na ACADEF conseguiu.
Ela descobriu a ACADEF por meados de 2001 enquanto estava buscando conseguir o passe livre e recomendaram que ela tentasse na instituição. Ao chegar ela ouviu aquilo que já tinha ouvido antes, que sua doença não se enquadrava nos requisitos para ter o passe livre. Mas lhe deram um formulário para preencher e concorrer a alguma vaga quando abrisse. “Eu fiquei cheia de esperança”, confessa.
Na ansiedade, Alexandra ligava todos os meses para conferir se não havia surgido nada. Cerca de um ano e meio depois ela foi chamada para algumas entrevistas para entrar nos outros convênios da ACADEF, mas não deu certo em nenhum. Foi então que começou com um trabalho autônomo junto com a associação, no espaço inclusivo, onde ela ia com uma Kombi nos bairros para fazer atividades com crianças, onde eram entregues panfletos sobre inclusão. Com esse trabalho ela já foi conhecendo o pessoal da ACADEF e pegando um grande carinho pela instituição.
Em 2004 ela foi chamada para uma vaga dentro da sede no setor de administração, e assim no dia 8 de novembro foi assinado o contrato e Alexandra passou a ser uma Acadefiana. Desde então já se passaram 13 anos de muitas histórias. Ela conta que a primeira pessoa com quem ela conversou foi a dona Suzana Cardoso, fundadora da ACADEF, ela logo deixou bem claro para Alexandra a importância do setor, pois segundo Martins, Suzana sempre diz que “a administração é o coração da ACADEF”, e Alexandra afirma, “hoje eu sinto orgulho de fazer parte desse braço principal da ACADEF”.
Para Alexandra, essa foi a grande oportunidade da sua vida. “A dona Suzana e o seu Jorge me deram uma oportunidade de ouro”, destaca. A assistente tem a fundadora da ACADEF como um de seus maiores exemplos. E não esconde o carinho que tem por todos os outros colegas de trabalho, “Não é mais só o teu trabalho, mas é uma extensão da tua família”.
Em todos estes anos, ela já viveu momentos de alegria, como também de tristeza. Mas tiveram três acontecimentos que marcaram muito a sua vida. O primeiro foi quando recebeu a certificação PIN de 5 e depois de 10 anos de ACADEF. O segundo momento foi a inauguração da piscina, a qual ela pode acompanhar desde o começo até o fim dessa realização, que era um sonho do seu Jorge Cardoso, fundador da ACADEF. E o terceiro momento foi a morte do seu Jorge, ela tinha um apresso muito grande por ele. Ela diz que só tem a agradecer por tudo o que conquistou aqui dentro, “eu vim aqui buscando algo tão pouco… mas que com tempo certo, no tempo certo, se tornou algo tão grande”
Sobre as conquistas do presente e os sonhos do futuro
Alexandra destaca o fato de que em 2017 conseguiu adquirir o passe livre, pois como houve uma progressão da doença o seu CID se enquadrou como o de deficiente físico. “Eu já não sou mais só uma pessoa com linfedema, eu sou uma deficiente física”, destaca, “mais do que nunca eu me sinto mais acadefiana”. Essa foi uma grande conquista para ela que nunca pode se enquadrar como uma pessoa “normal”, mas também não era uma deficiente física.
Ela conta que não consegue se imaginar parada, sem trabalho. Confessa que por causa de seus problemas de saúde sente a necessidade de diminuir o ritmo do dia a dia, mas não parar completamente, “eu acho que até o fato de trabalhar aqui dentro, e ver tantas pessoas indo além de seus limites, incutiu em mim esse desejo, eu sou uma pessoa que não fica só parada esperando que as coisas aconteçam”.
Cheia de planos, sonhos e desejos, quer conquistar muitas coisas ainda, quer crescer muito ainda. Ela segue com seus trabalhos na igreja e diz que nunca vai abrir mão disso. E nesse ano foi aprovada para um vocacional em uma comunidade de vida consagrada, chamada “Comunidade Filhos da Cruz”. E ainda está discernindo a possibilidade de ser mãe mais uma vez, ela conta que sua gestação foi muito boa e as vezes se sente um pouco egoísta por não dar um irmão a Maria Helena. Dentro da ACADEF ela admite que já recebeu muitas oportunidades, “eu pretendo continuar, enquanto eu estiver aqui, eu pretendo continuar correspondendo a isso”. “É ser gente, é ser feliz, é isso que eu almejo para a minha vida”, finaliza Martins.
Texto: Estephani Richter
Produção: Comunicação Social e Informática
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